sábado, abril 25, 2009

HOJE

Nos meus cadernos de escola
Sobre a carteira, nas árvores
Sobre a neve, sobre a areia
Escrevo o teu nome
.
Em toda a página lida
Em toda a página em branco
Sem papel, na pedra ou na cinza
Escrevo o teu nome
.
Sobre as gravuras douradas
Sobre as armas dos guerreiros
Sobre a coroa dos reis
Escrevo o teu nome
.
Na floresta e no deserto
Sobre os ninhos, sobre as gestas
Nos ecos da minha infãncia
Escrevo o teu nome
.
Nas maravilhas das noites
No pão branco das jornadas
Nas estações de noivado
Escrevo o teu nome
.
Nos fiapos de azul-celeste
No tanque solar bolor
No lago lua vibrante
Escrevo o teu nome
.
Nos campos, nos horizontes
Nas asas dos passarinhos
Sobre os moinhos de sombras
Escrevo o teu nome
.
Em cada sopro de aurora
Sobre o mar, sobre os navios
Na insensatez das montanhas
Escrevo o teu nome
.
Nas nuvens soltas revoltas
Na tormenta transpirada
Na chuva insistente e boba
Escrevo o teu nome
.
Sobre as formas cintilantes
Nas campânulas de cores
Por sobre a verdade física
Escrevo o teu nome
.
Sobre as veredas despertas
os caminhos desdobrados
Sobre as praças transbordantes
Escrevo o teu nome
.
Na lâmpada que se acende
Na lâmpada que se apaga
Nas casas cheias de gente
Escrevo o teu nome
.
No fruto cortado em dois
O do espelho e o do meu quarto
Na concha sem mim depois
Escrevo o teu nome
.
No meu cão terno e guloso
Mas sempre de orelha em pé
E patas destrambelhadas
Escrevo o teu nome
.
No trampolim da minha porta
Nos objectos familiares
Nas línguas do lume bento
Escrevo o teu nome
.
Em toda a carne acordada
Na fronte dos meus amigos
Em cada mão que me afaga
Escrevo o teu nome
.
Na vidraça das surpresas
Sobre os lábios expectantes
Muito acima do silêncio
Escrevo o teu nome
.
Nos refúgios descobertos
Nos maus faróis desmontados
Nas paredes do meu tédio
Escrevo o teu nome
.
Sobre a ausência do desejo
Sobre a solidão desnudada
Nos descaminhos da morte
Escrevo o teu nome
.
No retorno da saúde
No risco que se correu
Na esperança sem lembrança
Escrevo o teu nome
.
E, pelo poder de um nome
Começo a viver de facto
Nasci para te conhecer
E te chamar LIBERDADE
.
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Paul Éluard
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